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Tipos de recetores na regulação bioquímica — Chegada do sinal à célula-alvo

25 Fevereiro 2025, 14:00 Federico Herrera Garcia

Esta classe aborda de forma clara e organizada os principais tipos de recetores envolvidos na comunicação célula-a-célula, destacando mecanismos moleculares, propriedades funcionais e exemplos fisiológicos relevantes.

Etapas da comunicação e papel dos recetores

O processo de comunicação célula-a-célula inclui a síntese/libertação de moléculas sinalizadoras, transporte até à célula-alvo e ligação ao recetor, seguida de transdução do sinal e resposta celular. Os recetores são catalisadores e amplificadores, com domínios de ligação ao ligando (molécula sinalizadora) e domínios efetores. A modularidade dos recetores permite uma enorme diversidade de respostas com mecanismos convergentes, e a especificidade é ampliada pelo tipo de recetor e de ligando.

Propriedades dos recetores e seus ligandos

  • Os recetores fisiológicos são em grande parte inativos na ausência de ligando, mas apresentam alguma atividade basal.

  • A afinidade do ligando pelo recetor determina a sensibilidade, mas não necessariamente o grau de ativação.

  • Ligandos podem atuar como agonistas totais, parciais, inversos ou antagonistas, conforme sua seletividade pelos estados conformacionais do recetor.

Principais tipos de recetores celulares

  1. Canais iónicos controlados por ligando (ionotrópicos)

    • Responsáveis por converter sinais químicos em sinais elétricos.

    • Incluem canais ativados por ligandos extracelulares (ex: recetores glutamatérgicos NMDA e AMPA), ligandos intracelulares (ex: canais ativados por cAMP), potencial de membrana ou estímulos mecânicos.

    • Destacam-se em tecidos excitatórios (nervos, músculos).

  2. Recetores acoplados à proteína G (GPCRs, metabotrópicos)

    • Família vasta (800+ GPCRs em humanos), exclusiva de eucariotas.

    • Consistem em 7 hélices transmembrana; ativação resulta em sinalização por proteínas G heterotriméricas.

    • Diversidade aumentada pela formação de dímeros e variantes de splicing.

    • Incluem recetores para hormonas, neurotransmissores e outros ligandos.

  3. Recetores ligados/enlaceados a enzimas

    • Receptores com atividade enzimática intrínseca (normalmente quinases) ou associados a enzimas.

    • Incluem recetores tirosina-cinase (ex: EGFR, insulina), recetores serina/treonina-cinase (ex: TGF-β/SMAD), e recetores associados a quinases (ex: citocinas/JAK-STAT).

    • Ligação do ligando induz dimerização/transfósforilação, ativando cascatas intracelulares.

    • Papel chave no crescimento, diferenciação e surviva celular. Alterações podem originar cancros.

  4. Recetores nucleares

    • Fatores de transcrição ativados por ligandos lipofílicos (ex: esteróides, hormonas tiroideias).

    • Podem estar no citoplasma ou núcleo; funcionam como dímeros, reconhecendo sequências consenso no DNA.

    • Incluem recetores endócrinos para hormonas clássicas e recetores órfãos cujo ligando intracelular é desconhecido.

    • Regulação direta da expressão génica; importante em metabolismo, resposta ao stress, desenvolvimento.

Diferentes classes e exemplos

  • Os recetores são agrupados conforme mecanismos de ação, localização e tipos de ligando:

    • Canis iónicos: resposta em milissegundos (ex: recetor nicotínico da acetilcolina).

    • GPCRs: segundos (ex: recetor muscarínico da acetilcolina).

    • Recetores tirosina-quinase, serina/treonina-quinase: horas (ex: recetores de citocinas, insulina, FGFs).

    • Recetores nucleares: horas (ex: recetor de estrogénio).

Considerações finais

  • As células podem expressar vários recetores para o mesmo ligando, proporcionando respostas complexas.

  • O mesmo ligando pode originar respostas opostas em diferentes tecidos, dependendo do recetor expresso.

  • Diversidade e versatilidade dos recetores garantem precisão nos processos fisiológicos e adaptação celular.


Síntese e transporte de moléculas sinalizadoras

24 Fevereiro 2025, 12:00 Federico Herrera Garcia

Esta aula aborda detalhadamente os mecanismos de síntese e transporte de moléculas sinalizadoras na comunicação célula-a-célula, descrevendo as diferentes etapas e tipos de moléculas envolvidas.

Etapas da comunicação célula-a-célula:

  1. Síntese ou presença da molécula sinalizadora e sua libertação.

  2. Transporte da célula emissora até à célula-alvo.

  3. Ligação ao recetor na célula-alvo.

  4. Transdução: transmissão do sinal do recetor a moléculas efetoras intracelulares.

  5. Integração: “interpretação” do sinal no contexto de outros sinais.

  6. Resposta: alteração do comportamento celular.

  7. Terminação do sinal.

Classificação das moléculas sinalizadoras:

  • Baseada na síntese, armazenamento/libertação, propriedades hidrofílicas/hidrofóbicas e tipo de recetor.

Exemplos de moléculas sinalizadoras:

  • Proteínas sinalizadoras (citocinas, fatores de crescimento, hormonas peptídicas), moléculas orgânicas pequenas (neurotransmissores, hormonas lipídicas), hormonas gasosas (NO, CO, H2S) e hormonas vegetais.

Armazenamento e secreção:

  • Podem ser armazenadas em vesículas ou libertadas imediatamente.

  • A secreção é regulada, frequentemente dependente de estímulos e de Ca2+.

Síntese e transporte:

  • O tráfego das vesículas segue a via do retículo endoplasmático, Golgi, vesículas secretoras e fusão com a membrana plasmática (exocitose).

  • Existem vários mecanismos de endocitose (ex.: mediada por clatrina, fagocitose, caveolar, etc.).

Comunicação intercelular:

  • Diferentes modos: autócrina, parácrina, endócrina, juxtracrina (dependente de contacto), sinais via gap junctions, e comunicação sináptica.

  • A velocidade e especificidade variam conforme o modo.

Tipos de moléculas sinalizadoras:

  • Hormonas peptídicas, neuropeptídeos (ex.: insulina, vasopressina, ACTH), fatores de crescimento, neurotransmissores (aminoácidos e derivados), esteroides (derivados do colesterol), eicosanoides, hormonas vegetais.

Processamento e transporte intracelular:

  • Muitos peptídeos/hormonas sofrem modificações pós-traducionais e são processados em formas ativas durante o seu transporte.

  • Utilizam diferentes tipos de recetores: GPCRs, recetores tirosina quinase, recetores nucleares (para hormonas lipídicas).

Proteínas de transporte ("carriers"):

  • Hormonas hidrofóbicas e outras moléculas utilizam proteínas plasmáticas como a albumina, globulinas, transtirretina, entre outras, para circularem no sangue.

Relevância fisiológica:

  • Exemplos de funções: regulação do metabolismo, crescimento, desenvolvimento, resposta a estímulos, adaptação a ambientes e integração de múltiplos sinais.


TP1

19 Fevereiro 2025, 12:30 Francisco Rodrigues Pinto

Introdução ao deSolve.


TP1

18 Fevereiro 2025, 15:30 Francisco Rodrigues Pinto

Introdução ao deSolve.


Regulação Bioquímica: Uma Perspetiva Evolutiva

18 Fevereiro 2025, 14:00 Federico Herrera Garcia

Este documento apresenta uma visão ampla sobre os conceitos fundamentais da bioquímica da regulação, desde a definição da vida até os mecanismos moleculares que permitem a comunicação e controlo celulares, abordando a evolução desses processos.

O que é a vida?

  • Vida não é uma substância, mas um processo físico-químico.

  • Características essenciais: homeostase, organização celular, metabolismo (catabolismo e anabolismo), crescimento, adaptação, resposta a estímulos e reprodução.

Perspetiva evolutiva:

  • Nada em biologia faz sentido exceto à luz da evolução (Dobzhansky, 1973).

  • Sobrevivem as espécies mais adaptadas, não necessariamente as mais fortes ou inteligentes.

Classificação dos seres vivos:

  • Procariontes (bactérias, arqueias) e eucariontes (protistas, plantas, fungos, animais).

  • Teoria endossimbiótica explica a origem das organelas (mitocôndrias e cloroplastos) a partir de procariontes simbiontes.

Sequências conservadas e consenso:

  • Sequências biológicas altamente conservadas são fundamentais funcionalmente e evolutivamente.

  • Consenso refere-se a sequências típicas num dado contexto, mas nem sempre conservadas entre espécies.

Metabolismo e sinalização celular:

  • Metabolismo inclui todas as reações químicas que mantêm a vida.

  • Sinalização celular regula funções vitais — comunicação entre células, influenciada pelo ambiente.

  • Exemplos incluídos: metabolismo da histidina, ativação do fator NF-κB, apoptose, resposta a fatores de crescimento, hormonas e neurotransmissores.

Organização celular e evolução de sistemas complexos:

  • Transição de procariontes a eucariontes envolveu aquisição de sistemas membranares e organelas especializadas.

  • Seres multicelulares desenvolveram proliferação celular, especialização e comunicação intermolecular.

Funções reguladas pela sinalização celular:

  1. Metabolismo

  2. Crescimento e divisão celular

  3. Migração celular (ex.: reparação de feridas)

  4. Diferenciação celular

  5. Desenvolvimento embrionário e vegetal

  6. Processamento da informação sensorial (ex.: visão, audição)

Controlo bioquímico e feedback:

  • Sinalização utiliza pequenas moléculas, modificações pós-traducionais, alterações conformacionais e interações proteicas para regular processos.

  • Feedback positivo e negativo permitem robustez e controlo dinâmico.