Sumários
Transdução III – A Via de PI3K/Akt (PKB)
8 Abril 2025, 14:00 • Federico Herrera Garcia
Nesta aula, explorimos uma das rotas mais centrais e flexíveis da sinalização celular: a via dos fosfoinositídeos (PI3K/Akt). Esta cascata é fundamental para o controlo do crescimento, sobrevivência, metabolismo e motilidade celular, e está fortemente implicada em cancro e várias patologias.
1. Fosfoinositídeos e enzimas envolvidas
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Começámos por rever a família dos fosfoinositídeos, lípidos minoritários da membrana que, apesar da baixa abundância, são potentes reguladores espaciais de tráfego e sinalização intracelular.
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Discutimos as várias cinases e fosfatases (como PI4-quinase, PIP5-quinase, PI3K e PTEN) responsáveis pela fosforilação/desfosforilação dos anéis de inositol em diferentes posições, gerando uma diversidade de moléculas-sinal (PIP, PIP2, PIP3...).
2. Dinâmica nas membranas celulares
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Expliquei que os fosfoinositídeos criam plataformas bioquímicas específicas onde recrutam proteínas contendo domínios PX, PH, FYVE, entre outros.
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Estes domínios direccionam a localização das proteínas, ativam-nas alostericamente e regulam o tráfego e composição das membranas internas.
3. Mecanismo de ativação da via PI3K/Akt
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A sinalização inicia-se tipicamente via recetores tirosina-quinase (RTKs) ativados por fatores de crescimento (ex.: PDGF, IGF-1). O RTK recrutam e ativam PI3K, que converte PIP2 em PIP3 na membrana.
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O aumento de PIP3 serve de docking para proteínas adaptadoras e para a Akt (PKB) e PDK1, ativando-as sequencialmente na membrana.
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Discussámos o papel do Ras-GTP como “ponte” e amplificador do sinal, integrando a ativação de PI3K com outras cascatas (MAPK).
4. Regulação e papel do PTEN
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Destacámos o papel de PTEN, uma fosfatase-lipídica e onco-supressor, que degrada PIP3 de volta a PIP2, interrompendo o sinal e atuando como travão contra a proliferação descontrolada.
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A perda ou mutação de PTEN está associada com diversos tipos de tumor, devido à hiperativação sobre a via PI3K/Akt.
5. Funções da Akt (PKB) e integração de sinais
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A Akt é uma quinase central que regula:
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Sobrevivência celular (via inibição de apoptose, ex.: fosforilação do BAD),
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Proliferação e crescimento (via ativação de mTOR, aumento de síntese proteica),
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Metabolismo (via múltiplos alvos: FOXO, GSK3, enzimas metabólicas).
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Mostrámos como Akt pode inibir fatores de transcrição pró-apoptóticos (FOXO), promover a síntese de glicogénio, e modular o metabolismo.
6. Ramificações, feedback e cross-talk
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Falámos sobre ramificações que envolvem o mTORC1/2 (controlo do crescimento, mobilidade e metabolismo), integração com vias MAPK, regulação do citoesqueleto e tradução protéica.
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Dei exemplos de feedback negativo (pelo S6K, afetando IRS-1), explicando como a célula ajusta a intensidade e duração do sinal.
7. Relevância biomédica e clínica
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Destacámos como a via PI3K/Akt é alvo terapêutico em oncologia, doenças metabólicas e neurodegeneração, graças à sua centralidade no controlo do crescimento, sobrevivência e metabolismo celular.
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Discutimos como abordagens de proteómica (“MudPIT”) podem mapear a fosforilação de proteínas-alvo durante a ativação da via.
Transdução II – Cascatas de Cinases
7 Abril 2025, 12:00 • Federico Herrera Garcia
Nesta aula, aprofundámos o estudo das vias de sinalização celular mediadas por recetores ligados a enzimas, com ênfase especial nas cascatas de cinases, fundamentais para a resposta a estímulos extracelulares.
1. Classes principais de recetores ligados a enzimas
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Discutimos as três famílias principais:
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Recetores tirosina-quinase (RTKs): como o receptor de EGF e de PDGF, que autossuficientemente fosforilam resíduos de tirosina.
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Recetores tirosina-quinase associados: recetores que recrutam cinases citosólicas, como acontece com o sistema das citocinas (JAK-STAT).
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Recetores serina/treonina-quinase: por exemplo, os recetores TGF-β que ativam a via Smad.
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2. Mecanismo de ativação e propagação do sinal
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Após ligação do sinal (exemplo: factor de crescimento), os recetores dimerizam e sofrem autofosforilação em resíduos específicos de tirosina.
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A fosforilação cria pontos de ancoragem para proteínas adaptadoras ou efetoras, que reconhecem estes resíduos fosforilados através de domínios SH2 e PTB (funcionando como “tomadas de fichas” para transmitir a eletricidade – neste caso, o sinal!).
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A especificidade da propagação depende da sequência adjacente à tirosina fosforilada, permitindo a ligação de diferentes proteínas efetoras e, consequentemente, diferentes respostas celulares.
3. A cascata do Ras e proteínas adaptadoras
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Focámos a rede de proteína adaptadoras (exemplo: Grb2 com domínios SH2 e SH3), que ligam os RTKs à proteína GTPase Ras, por meio da GEF Sos.
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A Ras, quando ativada por GTP, serve de chave para acionar múltiplas vias – em destaque a cascata MAPK (Raf → MEK → ERK), amplificando o sinal através de fosforilações em cadeia.
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Discutimos outras pequenas GTPases (Rab, Rho, Ran) envolvidas em motilidade, transporte vesicular e organização do citoesqueleto.
4. Modularidade e integração dos sinais
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Chamámos a atenção para a importância dos domínios modulares SH2, PTB e SH3 na construção de rotas de sinalização, permitindo a integração (“cross-talk”) entre diferentes vias e resposta coordenada a múltiplos estímulos.
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Demonstrámos, por exemplo, como a mesma cascata ERK pode ser ativada por diferentes recetores e, consoante a intensidade/duração do estímulo, levar à proliferação, diferenciação ou migração celular.
5. Regulação da resposta e terminação do sinal
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Explicámos os mecanismos de dessensibilização: ubiquitinação, endocitose, degradação dos recetores ativados e desfosforilação por fosfatases.
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Substituir ou reciclar os recetores é essencial para ajustar a sensibilidade da célula a novos estímulos e evitar respostas patológicas.
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Destacámos as consequências patológicas de alterações nestas vias, em especial mutações em Ras (implicadas em cancro) e desregulação da via MAPK.
6. Aplicações e exemplos biomédicos
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Abordámos exemplos como o papel das vias JAK-STAT na hematopoiese e imunidade, assim como a participação das cascatas MAPK no crescimento e sobrevivência celular, sendo alvos principais no desenvolvimento de terapias anticancerígenas.
TP2: Mutagénese dirigida para mimetizar ou bloqueiar modificações pos-traducionais
2 Abril 2025, 12:30 • Federico Herrera Garcia
Na segunda TP de sinalização celular, os estudantes aprenderam os procedimentos para realizar uma mutagénese dirigida num plasmídeo, por médio de PCR. Aprenderam a desenhar primers de mutagénese com um programam online (PrimerX), e desenharam primers para mutar diversos resíduos da proteína STAT3 que podiam ser modificados pós-traducionalmente. Aprendimos a fazer modificações que mimetizam fosforilação ou acetilação ou que bloqueiam estas modificações sem mudar demasiado a estrutura da proteína. Este trabalho foi entregue no Moodle e os estudantes receberam feedback da qualidade dos primers. Este foi também um ponto de avaliação para as TPs.
TP2: Mutagénese dirigida para mimetizar ou bloqueiar modificações pos-traducionais
1 Abril 2025, 15:30 • Federico Herrera Garcia
Na segunda TP de sinalização celular, os estudantes aprenderam os procedimentos para realizar uma mutagénese dirigida num plasmídeo, por médio de PCR. Aprenderam a desenhar primers de mutagénese com um programam online (PrimerX), e desenharam primers para mutar diversos resíduos da proteína STAT3 que podiam ser modificados pós-traducionalmente. Aprendimos a fazer modificações que mimetizam fosforilação ou acetilação ou que bloqueiam estas modificações sem mudar demasiado a estrutura da proteína. Este trabalho foi entregue no Moodle e os estudantes receberam feedback da qualidade dos primers. Este foi também um ponto de avaliação para as TPs.
Transdução I – GPCRs
1 Abril 2025, 14:00 • Federico Herrera Garcia
Nesta aula, explorámos os recetores acoplados à proteína G (GPCRs), uma das maiores e mais versáteis famílias de recetores celulares, fundamentais para a perceção do meio e transdução do sinal nas células.
1. Fundamentos dos GPCRs
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Os GPCRs têm uma estrutura com 7 hélices transmembrana que atravessam a membrana plasmática, e apresentam regiões extracelulares para ligação ao ligando e citoplasmáticas para interagir com proteínas G heterotriméricas.
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A diversidade nas regiões de ligação à proteína G explica a especificidade na ativação dos vários subtipos de proteínas G.
2. Ativação das proteínas G heterotriméricas
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A ligação do ligando ao GPCR provoca uma alteração conformacional que atua como fator de troca de nucleótido de guanina (GEF) para a proteína G: promove a troca de GDP por GTP na subunidade α, ativando a proteína G.
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As subunidades α-GTP e βγ dissociam-se, interagindo com diferentes efetores intracelulares para propagar o sinal.
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A hidrólise do GTP para GDP na subunidade α (ativada por proteínas GAP) termina o sinal, permitindo que as subunidades se reúnam no estado basal.
3. Tipos de proteínas G e seus efeitos
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As principais famílias são:
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Gs (ativa adenilil ciclase, aumenta cAMP)
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Gi (inibe adenilil ciclase, regula canais iónicos)
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Gq (ativa fosfolipase C ß, gerando DAG e IP3, aumentando o Ca²⁺ intracelular)
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G12/13 (ativa pequenas GTPases Rho, regulando o citoesqueleto)
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Cada uma destas proteínas está associada a recetores específicos, que respondem a vários tipos de ligandos tais como neurotransmissores, hormonas, lipídios, peptídeos e até estímulos sensoriais (luz e odorantes).
4. Via dos segundos mensageiros
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A ativação de adenilil ciclase por Gs promove a síntese de AMP cíclico (cAMP), um mensageiro que ativa a proteína quinase A (PKA) e modula diversas funções celulares, incluindo metabolismo, expressão génica e mobilização celular.
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O Gq ativa a fosfolipase C-ß que hidrolisa PIP2 em IP3 e DAG. IP3 promove a libertação de Ca²⁺ do retículo endoplasmático e DAG ativa a proteína quinase C (PKC), ambos mediados na amplificação do sinal.
5. Regulação e dessensibilização dos GPCRs
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Após ativação, mecanismos como a fosforilação pelo kinase das proteínas G (GRKs), recrutamento da β-arrestina e clatrina, levam à inativação e internalização dos recetores, controlando a resposta e limitando a duração do sinal.
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Estas etapas também permitem o recíproco cruzado e a interação com outras vias de sinalização celular.
6. Papéis fisiológicos dos GPCRs
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GPCRs estão implicados na regulação do sistema imunitário (mediadores inflamatórios e quimiocinas), na modulação do metabolismo celular, crescimento, motilidade e na função do sistema nervoso (neurotransmissores como serotonina, dopamina, GABA).
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A via dos peptídeos natriuréticos e da guanilil ciclase também foi comentada, destacando a importância da regulação cardiovascular e homeostasia de fluidos via segundos mensageiros cGMP.
7. Exemplos clínicos e patológicos
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Como exemplo, discutimos a toxina da cólera que modifica covalentemente a subunidade Gs, bloqueando a sua inativação e causando um aumento prolongado do cAMP, resultando em diarreia grave.
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Além disso, a diversidade de GPCRs e suas vias significa que são alvos fundamentais para a terapêutica medicamentosa em várias doenças, incluindo o cancro, doenças cardiovasculares, inflamação e neurodegeneração.