Sumários
O Regulador Pleiotrópico SCO1897 em Streptomyces coelicolor
20 Maio 2025, 14:00 • Federico Herrera Garcia
O objetivo principal desta aula foi dar uma ideia da relevancia teórica e prática do conhecimento do metabolismo primário e secundário dos organismos.
Hoje explorámos como Streptomyces, um género bacteriano central para a biotecnologia e a descoberta de antibióticos, integra a regulação do metabolismo e do ciclo de vida com a homeostase do fósforo, abordando as implicações do regulador SCO1897.
1. Streptomyces: importância e ciclo de vida
Começámos por relembrar que Streptomyces é a principal fonte de antibióticos, antitumorais e outros bioativos; cerca de dois terços dos compostos secundários comerciais vêm deste género.
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O ciclo de vida de Streptomyces envolve crescimento vegetativo, morte celular programada e diferenciação em hifas aéreas e esporos.
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A produção de metabolitos secundários, incluindo antibióticos, está fortemente acoplada ao desenvolvimento multicelular e a sinais do ambiente, como o fósforo.
2. Descoberta de antibióticos e "innovation gap"
Explicámos que, apesar do “boom” histórico da descoberta de antibióticos, existe um “innovation gap” desde os anos 1960 — poucas novas classes foram descobertas.
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Um desafio biotecnológico é ativar vias biossintéticas "silenciosas" presentes nos genomas, potencialmente através de manipulação do ciclo de vida e da regulação.
3. Regulação por fósforo e papel do SCO1897
A aula focou depois a relação entre homeostase do fósforo e desenvolvimento.
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Fósforo é essencial à diferenciação e à produção de compostos secundários.
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Estudámos o regulador SCO1897, do tipo DeoR, identificado como repressor transcricional pleiotrópico.
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Mutantes para SCO1897 mostraram bloqueio da produção de antibióticos, alterações no ciclo de esporulação, germinação e acumulação de fósforo em esporos.
4. Funcionamento do SCO1897 e interação com sistemas de transporte de fósforo
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SCO1897 regula diretamente um cluster de genes associados a transportadores de fósforo.
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Demonstrámos, com análise transcriptómica, que a mutação em SCO1897 afeta mais de 1.400 genes, alterando profundamente vias metabólicas, diferenciação, esporulação e produção de compostos secundários.
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A regulação do fósforo por SCO1897 é independente do sistema clássico PhoP, mas interage através de genes em comum.
5. Efeitos no desenvolvimento e metabolismo especializado
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O SCO1897 mostrou ser crucial para que a bactéria module o metabolismo especializado (antibióticos, pigmentos, sideróforos), consoante a disponibilidade de fósforo.
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Observou-se bloqueio da produção de antibióticos clássicos como o actinorrodina em mutantes para SCO1897.
6. Potenciais aplicações biotecnológicas
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Discutimos a possibilidade de manipular SCO1897 e os seus caminhos regulatórios para ativar rotas biossintéticas “silenciosas” e promover a descoberta de novos bioativos.
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Estratégias que alteram a homeostase do fósforo podem ser usadas para otimizar a produção de antibióticos e outros metabolitos de interesse.
7. Conclusões
Finalizámos sublinhando que SCO1897 atua como um nodo central a integrar sinais ambientais (fósforo) com desenvolvimento e metabolismo especializado, sendo um alvo promissor para biotecnologia e medicina.
Dinâmica Conformacional do Canal de Potássio KcsA — Homo-FRET
19 Maio 2025, 12:00 • Federico Herrera Garcia
O objetivo principal desta aula é explicar aos estudantes um importante fenómeno de fluorescência (anisotropia) que pode ser utilizado para estudar o comportamento e as interações de moleculas in vitro.
Hoje explorámos como se pode estudar a dinâmica conformacional de canais iónicos, nomeadamente o KcsA, um canal de potássio procariótico, por técnicas de homo-FRET, uma abordagem que permite visualizar alterações estruturais em proteínas em solução.
1. Introdução: Canais Iónicos e FRET
Começámos por abordar as funções dos canais iónicos (com destaque para canais de potássio) e a importância do seu estudo, quer para a fisiologia quer para a farmacologia.
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Explicámos o princípio do FRET (Förster Resonance Energy Transfer), diferenciando hetero-FRET (entre fluoróforos distintos) de homo-FRET (entre fluoróforos idênticos).
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Discutimos que a homo-FRET é particularmente útil para estudar a proximidade e orientação entre resíduos idênticos marcados, com a leitura baseada na anisotropia da fluorescência (despolarização pós-excitação).
2. Estrutura e funcionamento do canal KcsA
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O KcsA é um canal homotetramérico prototípico de potássio de bactérias, com alta analogia estrutural aos canais eucarióticos mais complexos.
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Focámos as regiões-chave: filtro de seletividade (sequência TVGYG), portão de ativação (regulado pelo pH), e resíduos críticos como W67, envolvido na chamada “tríade de inativação”.
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O canal alterna entre estados abertos (condutivos), fechados, e inativados (onde a passagem de iões é bloqueada).
3. Aplicação da Homo-FRET ao estudo do KcsA
Explicámos a estratégia experimental:
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Engenheira-se mutantes do KcsA com um único triptofano (W67) como repórter fluorescente — isto elimina outros triptofanos para garantir especificidade de leitura.
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Mede-se a anisotropia da fluorescência sob diferentes condições (pH, concentrações de iões, mutações).
4. Descrição das experiências e dos resultados principais
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Os ensaios permitiram determinar a distância lateral W67-W67 entre subunidades do canal, através do ajuste de modelos matemáticos à variação de anisotropia ao longo do tempo.
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Mostrou-se que a conformação do filtro de seletividade depende fortemente da ocupação média por iões potássio — a distância entre resíduos muda consoante o número de iões presentes.
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Por comparação com modelos cristalográficos (incluindo canais com fragmentos Fab cristalográficos), demonstrou-se que a conformação real, em solução, é mais plástica e dependente do ambiente do que sugerido por estruturas estáticas.
5. Papel das mutações e dos ambientes iónicos
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Mutantes como E71A (eliminando uma parte da tríade de inativação) “congelam” o canal em conformações condutivas, evidenciando o mecanismo pelo qual a inativação é controlada.
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Variações de pH e tipos de ião (Na+, Cs+, Rb+, TBA+) também afetam a conformação do filtro de seletividade.
6. Implicações fisiológicas e técnicas
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Ficou claro que a plasticidade conformacional do filtro de seletividade está associada à funcionalidade do canal, incluindo processos de inativação (“C-type inactivation”) e seletividade iónica.
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A homo-FRET provou ser uma ferramenta poderosa para monitorizar estados conformacionais dinâmicos, explorando as alterações da proteína à escala de Angstroms.
7. Conclusões e perspetivas
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A aplicação de técnicas como homo-FRET é crucial para compreender mecanismos moleculares que não podem ser captados por cristalografia de alta resolução sozinha.
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Estes conhecimentos ajudam a desenhar futuros fármacos direcionados e a perceber doenças associadas a canais iónicos.
TP8
14 Maio 2025, 12:30 • Francisco Rodrigues Pinto
Análise de controlo metabólico (continuação da aula anterior).
TP8
13 Maio 2025, 15:30 • Francisco Rodrigues Pinto
Análise de controlo metabólico (continuação da aula anterior).
Investigar o Envelhecimento através das Síndromes Progeroides
13 Maio 2025, 14:00 • Federico Herrera Garcia
O objetivo desta aula foi aprofundar nas consequências de alterações nos sistemas de sinalização celular, neste caso no contexto do envelhecimento.
Hoje explorámos como síndromes raras de envelhecimento prematuro — as síndromes progeroides — servem de modelo para compreender os mecanismos de envelhecimento e identificar potenciais alvos terapêuticos.
1. O envelhecimento como acumulação de danos
Começámos por discutir que o envelhecimento resulta do acumular de lesões genéticas e ambientais no ADN: quebras simples e duplas, danos em bases, lesões volumosas, entre outros.
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Diferentes sistemas de reparação (BER, NER, MMR, HR, NHEJ) atuam para corrigir estes danos e manter a estabilidade do genoma.
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Quando estes mecanismos falham, ocorrem mutações, contribuindo para o envelhecimento e doenças associadas.
2. Síndromes progeroides – modelos humanos de envelhecimento acelerado
A aula ilustrou o contraste entre envelhecimento normal e precoce:
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Doenças como a Síndrome de Werner, Bloom, Cockayne, HGPS (Hutchinson-Gilford Progeria Syndrome) ou NGPS (Néstor-Guillermo Progeria Syndrome) apresentam envelhecimento acelerado devido a defeitos em mecanismos fundamentais (reparação do ADN ou estrutura nuclear).
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Focámos dois grandes grupos:
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Defeitos de reparação do ADN: levam a mutações, envelhecimento precoce em adultos e risco elevado de cancro.
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Defeitos na lamina nuclear (laminopatias): acumulam proteínas anómalas no núcleo e causam envelhecimento prematuro em crianças, sem aumento de cancro.
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3. Detalhes moleculares — Progeria HGPS e NGPS
Fomos ao detalhe de duas síndromes:
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HGPS: causada por mutações no gene LMNA que levam à produção da proteína anómala progerina, com graves consequências à arquitetura nuclear, crescimento, metabolismo, ossos e sistema cardiovascular. Os pacientes têm uma expectativa de vida de cerca de 15 anos.
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NGPS: associada a mutações em BANF1 (BAF), resultando numa proteína nuclear defeituosa. O quadro clínico inclui crescimento retardado, alterações ósseas e cutâneas, mas sem as complicações metabólicas e cardiovasculares severas da HGPS. Primeira síndrome progeroide autossómica recessiva conhecida.
4. Modelos animais e impacto nas vias celulares
Mostrei dados de estudos em ratinhos geneticamente modificados para NGPS (mutação A12T em BANF1):
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Estes animais apresentam perda de peso, defeitos nucleares e acentuada fragilidade óssea, evocando características da osteogénese imperfeita.
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Foi demonstrado, por análise da expressão génica no osso, que há ativação de vias de inflamação, diferenciação óssea defeituosa e sinais de envelhecimento acelerado.
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O modelo murino é crucial para testar terapias e perceber o impacto sistémico destas mutações.
5. Implicações para a compreensão do envelhecimento humano
A aula reforçou que o estudo destas síndromes permite identificar vias comuns ao envelhecimento normal, como:
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Instabilidade do genoma.
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Disfunção das laminares nucleares.
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Alterações metabólicas e inflamatórias.
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Diminuição da renovação e reparação tecidular.
A manipulação de alguns destes fatores mostrou potencial para retardar o envelhecimento em modelos animais (por ex., fármacos como estatinas ou bisfosfonatos, restrição
6. Terapias experimentais e desafios futuros
Concluímos salientando os avanços experimentais:
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Uso de morfolinos, CRISPR para corrigir mutações genéticas.
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Fármacos dirigidos à via da progerina (FTIs), ou ao metabolismo ósseo (bisfosfonatos), com algum sucesso em prolongar a saúde dos modelos animais.
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A grande dificuldade é traduzir estes avanços para terapias eficazes em humanos — e distinguir o que é típico de uma doença rara versus processos universais de envelhecimento.